Passamos certamente por um dos piores meses dos últimos anos para o mercado de ações, e não porque não houvesse condições de uma performance melhor, mas porque escolhemos os piores caminhos possíveis do lado do governo. Tínhamos em nosso cenário uma premissa de uma decisão racional no caso dos precatórios, o que envolvia a manutenção do teto de gastos e a não perpetuação de despesas incorridas por conta dos efeitos da pandemia. Pois não é o que está se desenhando: uma solução na qual acomodaremos despesas permanentes no orçamento, sem que haja uma avaliação profunda da necessidade de acomodá-las.
Ainda que a solução para o caso dos precatórios e Bolsa Família não seja a melhor, o mercado descontou excessivamente tais riscos nos preços dos ativos, motivo pelo qual continuamos acreditando que temos um upside importante para o mercado nos próximos meses, em especial nos temas domésticos, sobre os quais falaremos adiante.
Os mercados dos países desenvolvidos continuaram a escalada no mês de outubro, com novos recordes do S&P; o MSCI China (MXCN), que vinha performando mal por conta dos problemas com as intervenções nas empresas de educação e nas de tecnologia, e depois com a Evergrande, acabou por se recuperar também em outubro. Não podemos então colocar a culpa nos mercados externos, que deram uma boa ajuda a todos os mercados mundiais, com raras exceções. A incerteza com a manutenção do equilíbrio fiscal e o cenário político conturbado tem colocado um risco excessivo nos ativos brasileiros, como dissemos. Os juros de 5 anos subiram mais de 600 bps nos últimos meses para algo em torno de 12,5% ao ano, taxa que embute um juro real elevadíssimo.
Concordamos que há riscos, mas acreditamos que grande parte foi precificada nos últimos meses. A proximidade das soluções políticas para os problemas fiscais deverá possibilitar uma retomada forte e seletiva nos próximos meses, ainda que parte do upside tenha ficado pelo caminho. Gostamos das ações de empresas ligadas ao consumidor de alto poder aquisitivo, como Grupo Soma, Arezzo e Vivara por acreditarmos que é um consumo que se defende melhor da crise e cujas empresas conseguem repassar aumentos de custos com maior facilidade aos seus preços. Os atacarejos também são interessantes, por serem ligados ao consumo de massa, e por representarem uma boa alternativa aos supermercados e hipermercados, por praticarem preços de 10 a 15% mais baixos com um nível de serviço inferior.
Também estamos otimistas com os bancos, que continuam negociando próximos ao valor patrimonial, com inadimplência controlada e bom nível de concessão de crédito. A ameaça dos bancos digitais será mais forte em alguns anos, o que não nos incomoda no curto prazo.
Continuamos com posições em ações ligadas às commodities, em especial petróleo e frigoríficos. No petróleo, teremos provavelmente preços elevados por um prazo extenso, já que houve um forte subinvestimento nos últimos anos (tanto por parte das supermajors quando pelas empresas de shale nos EUA). Já os frigoríficos terão um ciclo mais extenso nos EUA com o PIB crescendo por volta de 5,5% neste ano e 4,5% em 2022. Na América Latina o ciclo começa agora a melhorar para os frigoríficos, indicando bons anos positivos à frente. Continuamos pessimistas com o minério de ferro e agora também com aço, já que o caso Evergrande deixará cicatrizes e não possibilitará um retorno rápido à pujança que havia nas incorporadoras imobiliárias. O próprio governo chinês está em busca de crescimento verdadeiro do PIB, e não mais em construções que não geram crescimento futuro.
Tivemos em outubro perdas no varejo (-6,1% na cota), onde está cerca de 30% da alocação do fundo (10 pontos menor do que no mês passado), em consumo (-2,8%) e 8% do PL e em posições de commodities (-2,4%) com 28% do PL. O fundo caiu 14,7% no mês de outubro.
Obrigado pela confiança.