Carta Mensal – Fevereiro 2022


Com o fluxo de estrangeiros extremamente forte novamente, o mercado continuou seu movimento de alta, especialmente nas ações mais líquidas e naquelas ligadas às commodities, principalmente petróleo e minério de ferro. Os estrangeiros ingressaram com R$ 30,1 bilhões em fevereiro, totalizando R$ 62,6 bilhões em 2022 (R$ 70 bilhões em 2021, no ano todo). Enquanto isso os fundos de ações locais tiveram resgates de cerca de R$ 9 bilhões em fevereiro, acumulando R$ 20 bilhões em resgates em 2022. 

Nossa carteira, mais diversificada do que o Ibovespa, sofreu por conta da exposição ao varejo de vestuário – o varejo alimentar performou bastante bem – e pela exposição a algumas empresas de commodities como CSN e JBS. 

Se por um lado temos a expectativa do aumento de juros nos EUA como fator de risco para o mercado – amplificado pela recente alta no preço das commodities – temos o Brasil até certo ponto como beneficiário destes acontecimentos, ainda que com pressões inflacionárias adicionais. A China vem expandindo o crédito em sua economia visando recuperar em especial o setor imobiliário, o que também nos beneficia. Por fim, a saída da Rússia dos portfolios dos investidores os fará buscar outro mercado ligado às commodities, onde o Brasil se encaixa. 

Acreditamos que, com a continuidade dos fluxos de estrangeiros para o mercado doméstico e a redução nos resgates dos fundos de ações locais (até pela contração generalizada dos ativos sob gestão), o Ibovespa poderá continuar sua valorização no curto prazo. Entretanto, a proximidade do início da alta de juros nos EUA poderá trazer volatilidade a este movimento, gerando então oportunidades nos ativos domésticos.

Somamos mais um risco aos dois que havíamos comentado em nossa última carta (juros nos EUA e eleições no Brasil): a guerra na Ucrânia e seus desdobramentos geopolíticos. Haverá aumento da inflação por conta do avanço no preço das commodities, o que poderá desencadear um cenário ainda mais negativo em relação aos juros nos EUA, podendo até mesmo causar uma recessão mais à frente – este seria o pior dos cenários.

O mercado de alguma maneira vem precificando todos esses eventos, mas já temos visto fluxo na montagem de posições domésticas em empresas de alta qualidade, tais como Soma, Arezzo e Grupo SBF; também ativos de duration mais longa como locadoras de veículos, shoppings e concessionárias de rodovias já estão em preços atraentes, mesmo considerando o impacto dos juros dos EUA (aqui os juros longos, nas atuais circunstâncias, não devem surpreender). Restam ainda as empresas mais correlacionadas à Nasdaq, como as de e-commerce ou aquelas de tecnologia com múltiplos de curto prazo elevados.

Nós já temos uma parte da carteira ligadas à curva longa de juros (shoppings e locadoras), bem como varejistas high-end, que acreditamos que já estejam excessivamente descontadas. Os atacarejos são também para nós posições importantes, com valuation inexplicavelmente baixos, com enorme potencial de valorização. Mantivemos a posição em commodities, voltando para a diversificação em celulose e frigoríficos, somada a petróleo e minério de ferro. Acreditamos que assim nossa carteira fica mais balanceada e menos sujeita a qualquer forte realização de preços que pode haver no mercado de commodities.

Nossa cota caiu 1,8% em fevereiro, com ganhos em commodities (+0,3 ponto percentual) e perdas no varejo (-0,5%), locadoras (-0,3%) e shoppings (-0,2%).

Obrigado pela confiança.