Quick Note – Setembro 2021


O mercado de ações no Brasil continua em trajetória divergente em relação aos mercados desenvolvidos, em grande parte por fatores domésticos. O risco fiscal se sobrepôs às boas perspectivas para a economia no curto prazo, e o risco político cresceu como nunca antes desde a redemocratização do país.

Do lado fiscal, prosseguem as negociações em torno do teto dos precatórios e do novo bolsa família, com o risco de furar o teto de gastos, o que eleva a tensão nos juros longos e no dólar. Já do lado político os eventos que culminaram no 7 de setembro colocou o risco de ruptura institucional nos preços.

Nos últimos dias, a temperatura política tem baixado e o risco institucional (pelo menos a médio prazo) está ficando, como esperado, menor. O ambiente menos beligerante abre espaço para a solução do impasse sobre os precatórios. Não é um caminho fácil, necessita do diálogo das duas casas do Congresso, do Supremo e do Executivo, mas todos tem interesse em resolver essa questão. Afinal, sem equacionar os precatórios, não há espaço para o reajuste do bolsa família, tampouco para emendas parlamentares e sequer para o aumento do fundo eleitoral. E há soluções que são viáveis, seja na proposta que contemple o parcelamento ou até mesmo na proposta que retira os precatórios do teto desde sua origem. Devemos ver essa solução encaminhada nas próximas semanas.

A vacinação tem andado rapidamente no Brasil, com praticamente todos os adultos vacinados com a primeira dose, e por volta de 40% com a vacinação completa. As hospitalizações e mortes vem caindo consistentemente, o que nos dá grande confiança de que não teremos uma terceira onda por aqui, e de que a reabertura continuará a todo vapor. Por outro lado, adicionamos o risco – ainda baixo – de racionamento, que acabou fazendo algum preço nos mercados.

Nossa carteira vem sofrendo mais do que o mercado em geral, pois são na maioria temas ligados ao mercado doméstico, que vem sentindo a aversão ao risco e por não serem as ações de maior liquidez da bolsa. O varejo tem se recuperado desde maio, e segue em ritmo forte neste terceiro trimestre, principalmente aquele mais protegido por terem consumidores com nível de renda mais elevados, a exemplo de Track&Field e Grupo Soma (Farm, Animale, Maria Filó, Foxton, etc). Também o turismo já está num bom ritmo, com a Azul tendo reportado número de passageiros superior ao de 2019 – o turismo doméstico roda praticamente no nível de 2019, ou seja, já superou a queda do Covid. Também os bancos passam por um bom momento com baixa inadimplência e crescimento das carteiras de crédito, tanto de pessoas físicas quanto jurídicas. Por fim, as commodities sofreram bastante (em especial minério de ferro e siderúrgicas) com a desaceleração da China e restrições à produção de aço, mas parecem agora ainda mais atrativas, com múltiplos baixos e enorme geração de caixa livre.

O Ibovespa negocia a múltiplos por volta de 8,5x lucros – nível equivalente ao ápice do processo de impeachment da presidente Dilma, quando a visibilidade era muito pior –, contra uma média de longo prazo da ordem de 10,5x, ou seja, com um enorme desconto. Seguimos, portanto, otimistas com o mercado para os próximos trimestres, acreditando que os ruídos políticos se dissipem e que haja acordos para as votações das pendências fiscais.

O fluxo de estrangeiros é levemente negativo em setembro, ainda que acumule R$ 46 bilhões positivos no ano, sendo que os institucionais estão na ponta oposta – principalmente os hedge funds.

Nosso portifolio teve como destaques negativos o varejo e os bancos, e positivos, os setores de saúde e locadoras. A cota caiu 2,5% na primeira quinzena deste mês, acumulando queda de 5,7% no ano. Estamos comprados em 99,5% do PL e com exposição bruta de 140%.