PIB: 5,6% de crescimento em 2021


O PIB do 1º Trimestre saiu melhor do que a encomenda. Os dados dos últimos meses já sinalizavam que o efeito sobre a atividade com a redução do Auxílio Emergencial e o lockdown a partir de março seria menor. O que o PIB mostra é que, puxado pelo setor Agrícola e pela Indústria (especialmente a Extrativa), os números foram ainda mais fortes. Também aponta para uma condição melhor para a expansão nos próximos meses. Já vínhamos positivos com a recuperação da atividade (esperando 4,2% de crescimento), mas com estes novos números, estamos elevando nossa projeção de crescimento em 2021 para 5.6%.

Parte dessa perspectiva positiva se deve ao patamar que já atingimos: o crescimento do primeiro trimestre elevou o carry over para 2021, que saiu de 3.7%1 para 4.9%. Como vemos, grande parte do crescimento do primeiro trimestre foi contribuição da agricultura, mas a quebra dos setores da indústria e de serviços também é reveladora do estado da economia.

Quando olhamos a performance industrial, vemos um crescimento puxado pelas Indústrias Extrativas (3.2% QoQ) e a Indústria da Transformação aparece puxando o crescimento para baixo (-0.5% QoQ). Esta deve seguir volátil no curto prazo, porque há interrupções em cadeias produtivas por falta de suprimentos; mas os estoques em toda a cadeia industrial nos parecem baixos e a perspectiva ao longo do ano é que a indústria ainda siga colaborando com o crescimento.

Mas, mais importante para a recuperação da economia nos próximos meses será o desempenho do setor de serviços. Este setor inclui as atividades que mais sentem os efeitos da pandemia. Serviços prestados às famílias (principalmente alojamento e alimentação), que cresceram apenas 0.1% QoQ, e os serviços da Administração Pública (principalmente educação e saúde)2, que caiu 0.6% QoQ, estão ainda muito para trás. Como ambos compreendem 40% do PIB de Serviços, temos aqui o fator mais relevante para a má performance de serviços, mas reside aqui também o maior espaço de crescimento para o resto do ano com a normalização da epidemia e das atividades pós-vacinação.

Volumes Serviços (100 = 2016Q1)

1 Número pós-revisão dos números de 2020
2 Acumulados em Outros no gráfico

Saindo da perspectiva da oferta e olhando para os componentes da demanda, o maior insight vem dos dados de Consumo das Famílias. No ano passado e até o começo deste ano, projetavam-se quedas de até 2% no Consumo do primeiro trimestre porque a tese dominante era a do “income cliff” que haveria com a retirada do auxílio emergencial. Olhando para os dados de consumo do IBGE e também outros dados de atividade, vemos fortes indícios de que (1) a queda de renda não foi tão grande quanto se esperava e (2) a poupança realizada em 2020 pelas famílias suavizou bastante seu consumo. Vemos isso pelos seguidos marcos na geração de empregos formais do Novo CAGED e também pela poupança bruta brasileira, que no primeiro trimestre de 2021 como proporção do PIB ainda está 8.5 pontos maior do que no primeiro trimestre de 2020. 

Esse patamar ainda elevado da poupança doméstica nos deixa positivos para a perspectiva do ano. Essa poupança foi feita devido às incertezas com a pandemia e, claro, porque, para muitos, despesas que eram usuais (restaurantes, turismo, enfim os serviços que apontamos acima) ficaram restritas. Com a reabertura veremos uma demanda reprimida por essas atividades que será sustentada por essa poupança que foi gerada nesse período. Isso significa que o consumo deve acelerar nos próximos meses.

Taxa de Poupança Doméstica – Média Móvel de 4 Trimestres 

Por último, vale destacar que o crescimento do PIB nesse trimestre foi, em boa medida, gerado pelo aumento de estoques. Essa poderia ser uma evidência negativa, um sinal de que houve mais produção, mas menos demanda. Dessa vez, porém, não parece ser o caso. Os estoques provavelmente foram gerados nos setores onde a produção mais cresceu – Agropecuária e Extrativa – que são também os setores onde vimos um comportamento muito altista nos preços. Os preços agrícolas e as commodites em geral estão subindo porque há um excesso de demanda e níveis baixos de estoques. Se essas medidas estão corretas (e a medida de estoque do IBGE não é muito precisa), os estoques estão subindo não por falta de demanda, mas porque vinham muito baixos desde o fim do ano passado. A recuperação de estoques nas cadeias deve ter continuidade ao longo do ano e impulsionar também a indústria de transformação mais adiante.

O principal risco à frente é um recrudescimento da epidemia que nos obrigue mais uma vez a reforçar medidas de distanciamento social e prejudique principalmente o setor de serviços. Mas, com base na eficácia das vacinas disponíveis, no cronograma de vacinações e nos efeitos já percebidos nas taxas de hospitalização na população com mais de 70 anos, acreditamos que a reabertura da economia é o cenário central. Neste mundo, temos um largo espaço para crescimento em 2021.

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