Carta Mensal – Setembro 2021


Escrevemos no mês de agosto que tínhamos continuado a performance do mês de julho, e setembro acabou não sendo diferente, com alguns fatores a piorar um pouco mais o ambiente. Estamos no mesmo movimento de redução de risco dos mercados, ainda que nos pareça que teremos um bom momento de recuperação mais à frente. São choques sobrepostos que ocorreram no 3T21 e que deverão sair dos preços nos próximos meses.

A crise da Evergrande na China foi sem dúvida um dos principais fatores negativos para o mercado, com implicações para vários setores das economias chinesa e global. O lado bom foi estar pouco endividada junto aos bancos, o que mantém saudável o sistema financeiro, mas “joga a conta” para os detentores dos bonds – fundos, wealth managements, etc. Há apreensão entre os compradores dos imóveis ainda não entregues bem como para a sustentabilidade do sistema, já que muitos imóveis estão sendo liquidados para pagar empréstimos, com queda de preços e provavelmente prejuízos relevantes. As implicações globais tem relação com o mercado de commodities, já que a China tem metas de redução de poluição e consequentemente menor produção de aço, que por sua vez reflete nas importações de minério de ferro. Temos então a situação na qual o minério de ferro cai de preço e o aço se sustenta, pois um potencial exportador reduzirá sua produção de forma importante.

Nos EUA os comentários sobre o início do tapering (redução de compra de títulos pelo FED) fez as taxas das treasuries de 10 anos subir de 1,3% para 1,55% ao ano, o que derrubou o mercado de ações (em especial a Nasdaq), com efeitos relevantes nas ações brasileiras ligadas ao e-commerce e ao varejo. Recentemente as discussões sobre o debt ceiling (limite de endividamento do governo dos EUA) vem pesando nos mercados, mas a decisão tem que ser tomada até dia 09/10 para não paralisar o governo. A variante Delta da Covid-19 acabou saindo dos preços com a (lenta) evolução da vacinação nos países desenvolvidos para além de 60% da população.

Aqui no Brasil começamos o mês com o desastroso discurso do Presidente da República, que acabou depois por divulgar uma carta sinalizando compromissos com os demais poderes e com a democracia. Continuamos a extensa discussão sobre os precatórios, auxílio emergencial e bolsa família – tudo ligado ao teto de gastos. Também tivemos a crise do preço dos combustíveis contaminando a Petrobras, que vem se saindo bem ao mostrar que há problemas que são de responsabilidade do governo e não da companhia. Lembrando que em 2021 o petróleo já subiu mais de 60% em R$ (+ de 55% em US$), e afeta os preços de maneira generalizada via transportes de pessoas e cargas e, mais importante, do botijão de gás para a população mais carente. Temos aqui um problema encomendado para os próximos meses. A falta de energia na China e na Europa – onde há problemas de abastecimento de carvão e gás natural – tem aumentado o preço do petróleo e seus derivados. Por aqui entraremos no ano eleitoral com dois candidatos sem compromissos fiscais claros – o que possivelmente será o combustível para depreciações adicionais do R$. Neste cenário, dificilmente haverá espaço político para reajuste de preços dos combustíveis.

Temos privilegiado as posições mais líquidas no nosso portfolio, mantendo o foco por ora em ações domésticas (varejo e consumo) e de commodities (excluindo minério de ferro). A reabertura da economia ainda não foi para os preços das empresas domésticas, em especial para aquelas que atuam com público de renda mais elevada. O turismo continua em forte recuperação, seja pelos números relativos aos viajantes domésticos, seja pela abertura de vários países (incluindo EUA e Argentina) aos brasileiros. Quanto às commodities, somos mais otimistas com aquelas ligadas ao petróleo, aço e às proteínas animais.

Em setembro tivemos perdas no varejo (-2,7% na cota), onde está cerca de 40% da alocação do fundo, em bancos (contribuição de -1,0%) com 15% do PL e em posições de consumo (-0,5%) com 15% do PL. Os ganhos foram em commodities (+1,7%) e na posição vendida em índice (+0,5%). A variação negativa da cota no mês foi da ordem de 5,2%.

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