O varejo no pós-covid


Devido à pandemia e aos lockdowns, a população deixou de consumir serviços em geral – viagens, restaurantes, bares e festas – e também de adquirir alguns bens como vestuário, joias, entre outros, dada a menor necessidade naquela ocasião. A redução de mobilidade trouxe padrões diferentes de consumo, alguns permanentes, outros nem tanto, que também terão impactos diversos sobre as empresas na reabertura. Este conjunto de fatores afetou dramaticamente o varejo durante a pandemia e é o principal motor para o desempenho das empresas neste ano.

Um fenômeno global desse período difícil é que a parcela da população que manteve seus empregos e renda se viu, pelas restrições de mobilidade, impossibilitada de consumir os mesmos bens e serviços do período pré-pandêmico. Parte disso virou um consumo mais elevado de bens, e parte formou uma poupança involuntária. 

No gráfico abaixo notamos o aumento dessa poupança privada em relação ao PIB no Brasil. Durante os períodos mais agudos da pandemia (2º e 3º trimestres de 2020 e no 2º trimestre de 2021 – quando oslockdowns voltaram) a poupança do setor privado cresceu a níveis muito maiores do que no pré-pandemia – entre 10 a 15 pontos percentuais do PIB acima da média histórica. Este não foi um movimento homogêneo. No âmbito das famílias, o aumento da poupança se restringiu à parcela de renda mais elevada e com empregos de maior qualidade, cuja renda sofreu menos com as restrições de mobilidade. 

Com a evolução da vacinação, queda nos casos de Covid e maior segurança da população, vimos uma flexibilização das restrições, o que trouxe de volta a possibilidade de consumo de serviços e por consequência a compra de alguns bens que antes não faziam tanto sentido, como roupas, calçados e joias. A reabertura é fundamental para o varejo não apenas porque as lojas estarão abertas, mas porque os padrões de consumo serão reestabelecidos, o que é especialmente válido para as famílias de renda mais elevada.

Neste retorno, é importante distinguir no varejo os setores que se beneficiam e as mudanças mais permanenentes nos hábitos que a pandemia trouxe. Um bom exemplo está no segmento de vestuário, no qual os consumidores vinham buscando cada vez mais conforto e menos roupas sociais. Outro movimento observado durante a pandemia foi a maior preocupação com a saúde e busca por produtos de vestuário esportivo. 

Ou seja, a reabertura da economia – com o avanço da vacinação – deve alavancar as vendas dos itens de vestuário mais sofisticados, mas não deverá comprometer a performance daqueles mais ligados ao esporte, saúde e bem-estar, cada vez mais uma preocupação das pessoas.

Diante deste cenário positivo para o varejo, com demanda reprimida, poupança nas classes de renda mais alta e retomada do consumo, vale ressaltar alguns pontos negativos/riscos que podem atrapalhar essa recuperação do consumo.

Vários varejistas no mundo tiveram suas produções paralisadas, em especial os atuantes em vestuário e calçados, como a Nike. Esta compra cerca de 50% de seus calçados no Vietnã e viu as fábricas de seus fornecedores fecharem por mais de 10 semanas por conta do aumento de casos da COVID-19. Essa ruptura na cadeia produtiva pode gerar eventualmente falta de produto na ponta e, portanto, trará dificuldade para atender essa demanda reprimida do consumidor nos próximos meses. Além disso, vimos o forte aumento nos preços e prazos de frete global, dada a escassez de containers no mundo – com a demora para descarregar, os containers acabavam sendo utilizados por mais tempo, ficando indisponíveis para uma nova carga. Uma mercadoria que antes demorava cerca de 40 dias para sair da Ásia e chegar aos EUA, agora está demorando o dobro do tempo.

Problemas na cadeia de suprimentos e frete contribuem para o aumento da inflação no setor de vestuário, particularmente nos players que possuem dependência de produtos importados. Contudo, sabemos que aqueles que operam no segmento de renda mais alta possuem mais facilidade para repassar aumento de preços do que os que atuam em classes mais baixas.

Alguns players que podem se beneficiar deste cenário:

  • Grupo Soma
    • O grupo opera 10 marcas focadas em vestuário, para os públicos A/B e recentemente fez a aquisição da marca Hering. Atualmente suas principais marcas são Animale, Farm e NV. 
  • Arezzo
    • Grupo focado em classes A/B, incialmente começou sua trajetória no mundo de calçados, mas nos últimos dois anos entrou no mundo de vestuário masculino com a marca Reserva, focada no público “A”; entrará em breve no mercado de vestuário feminino com a marca Schutz.
  • Vivara
    • Jolherias acabaram performando bem durante a pandemia, uma vez que as classes de renda mais elevada deixaram de viajar e acabaram presenteando com tickets maiores. Eventos como casamentos e festas já estão sendo retomados, o que tem acontecido (mais lentamente) no segmento de viagens, em especial nacionais; isso favorece o consumo da categoria.
  • Track&Field
    • Durante a pandemia o movimento de Athleisure ganhou muito momento, e aparentemente deve continuar forte. A tendência consiste em roupas casuais que podem servir para atividades esportivas e também para uso no dia a dia. Essa tendência favoreceu muito a Track & Field durante a pandemia e a marca continua performando bem. A Companhia oferece uma proposta de valor com itens de alta qualidade para esportes, que eventualmente podem ser usados também no dia-a-dia.

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