O Copom e a Bolsa


Foi uma decisão dura, mas esperada. O Copom subiu ontem o juros em 100 bps e já sinalizou mais 100 bps para a próxima reunião. A boa notícia é que apesar do forte aumento da inflação que estamos vendo neste ano, a inflação projetada no modelo deles para 2022 e 2023 ainda está na meta (respectivamente 3,5% e 3,2%).

Se a inflação projetada está na meta no horizonte relevante para o Copom, por que acelerar? A resposta está nos riscos que envolvem essa projeção. Especialmente no aumento recente da inflação de serviços que estamos vendo com a reabertura, o que pode contaminar as expectativas de inflação.

Tem um componente upfront nessa decisão, portanto. Mas ela é sensata porque se entrarmos na dinâmica de inflação de serviços elevando expectativas, o controle desse processo torna-se muito mais custoso. Esse aumento na inflação de serviços é, a priori, pontual; uma correção dos preços que estavam comprimidos porque os setores estavam fechados pela pandemia. Isso tem acontecido nos países que já abriram. O problema aparece quando as expectativas começam a subir, o que perpetua o aumento na inflação. Se perder o controle sobre as expectativas, o Copom terá que fazer um ciclo muito maior e é esse cenário que a decisão de ontem tenta evitar. Por sinal, esse é o grande risco pra 2022 mas lá o que pode desancorar expectativas são outros fatores.

Pelos sinais do Copom, vamos terminar o ano com a Selic entre 7,5% e 8,0. Não está muito diferente do que temos na curva. Mas a taxa ao final desse ciclo de aperto vai depender do comportamento das expectativas no ambiente de tapering do Fed + crescimento global revertendo + risco eleitoral. Riscos que serão crescentes ao longo 2022. Se tudo der certo o ciclo termina em 8,0% mas, convenhamos, é muita coisa pra dar certo. O ciclo deve ser maior, portanto. A boa notícias é que esses fatores não devem aparecer no curto prazo.

Nesse contexto, qual o efeito para a bolsa? A aceleração já era esperada e ela ajuda a conter alguns dos riscos adiante, o que é positivo. Claro que em um ciclo normal, a subida de juros é um sinal de que a expansão da economia vai desacelerar adiante; mas a pandemia deixou este ciclo muito diferente dos demais.

Nesses próximos trimestres veremos uma forte aceleração na atividade (e no lucro das empresas) pela reabertura, o que significa que estamos ainda distantes do pico do ciclo. A reabertura funciona como um choque positivo na atividade, o que não é sensibilizado pelo patamar dos juros por aqui. Além disso, a reabertura ocorre em um momento em que a liquidez global segue abundante (os juros reais no mundo estão renovando mínimos históricos). Não é o Copom mas sim a reabertura e o ambiente global expansionista os grandes drivers para o mercado por aqui. E essa história segue boa, apesar das oscilações dos últimos dias.

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